MINAS 7 , NOSSA HISTÓRIA...
Desde
pequena eu já desconfiava de algumas inabilidades pessoais. Por mais que eu me
esforçasse o tempo se incumbia de fazê-las ainda mais notórias. Poderia listar
algumas delas, umas até muito bem superadas, como o meu medo de cachorros. Mas
de todos os desafios que eu precisei encarar na infância lá estava a inaptidão
por esportes.
Era
terrível ter de lidar com isso, principalmente porque é na escola, mais
precisamente no primário que isso fica bem evidente. Até aí eu podia até rir de
mim mesma e me importar muito pouco. Crianças não se importam muito em errar ou
em ter de tentar de novo, mesmo com todos os olhares fixos nelas. Sempre
arrumando um jeitinho de isso parecer cômico, “bonitinho” e uma graça para os
adultos. Pena que na inocência não podemos prever o que acontecerá quando a
juventude chegar. Até porque se isso acontecesse jamais teríamos aquelas crises
de querer ser maior e bem mais velho.
Não
importam quais são as suas dificuldades pessoais ou seus problemas, isso
certamente vira uma bola de neve na adolescência. Se antes o simples fato de
você não conseguir chutar direito uma bola de futebol e se esborrachar no chão
era engraçado, isso passa a ser um terror quando você é pressionado mais tarde
a jogar futebol com os amigos de colégio. Você será “zoado” o resto dos seus
dias. (Isso soou um exagero, mas tudo bem).
– “Seu Perna-de-pau!” – esse é o mínimo de incentivo que eles vão querer
ter dar. É por isso que eu tenho uma pena de alguns menininhos por aí. Eles
definitivamente não têm culpa desse infortúnio, inábeis com a bola justo no
país do futebol, onde 98% dos garotos nascem com o sonho de se tornarem
jogadores de futebol profissional.
Minha
sincera compreensão a vocês!
Bom,
ainda bem que eu era uma garotinha com 13 anos. Pelo menos fiquei livre dessa
pressão que os garotos passam, mas como nem tudo são flores eu estava certa de
que ainda ia ter problemas. Treze anos, ‘nerd’, sem nenhuma habilidade com
esportes. Essa era eu. Você possivelmente pode imaginar como eu era né? Pois
bem, só tirem os óculos fundo de garrafa, por favor! Tirou? Aí, obrigada! Eu
nunca usei óculos! Isso era por sinal um
bom triunfo! Ponto a meu favor em parecer pelo menos um pouco normal. “Para nossa alegria...”
Se
tinha aula de educação física lá estava eu, no canto sentada. E olha que eu nem
precisava torcer para que ninguém me escolhesse pro seu time. Eu era descartada
e isso por si só já era um alívio. O pavor era quando eu me via sem
alternativas, encarando uma partida de voleibol ou queimada. Se bem que nos
jogos de queimada eu conseguia um bom rendimento – me desviava bem das bolas,
talvez pelo corpo franzino - Não sei se era um ponto ao meu favor, levando-se
em consideração que eu era a última do time em quadra, sem muito jeito de
queimar alguém do outro time. Alguma hora o cansaço seria maior do que minha
capacidade de se desviar das investidas do time adversário. Perdia meu time.
Fazer o quê, né.
Alguns
amigos eram compreensíveis e até camaradas, contudo não havia nada do que eles
pudessem fazer para que eu me sentisse melhor. Aliás, o melhor para mim era
quase sempre encarar aulas de álgebra, contas e mais contas, regras e mais
regras de português com todos aqueles tempos verbais, que ninguém esquece. Pois
é, se você me perguntasse o que eu mais gostava de fazer eu diria:
estudar. E isso não mudou muito, eu
confesso. Todavia tem uma porção de coisas que mudaram desde essa época, e hoje
posso contar algumas delas aqui. Ainda bem que eu mudei. Não há mais notícias
daquela menina franzina, sem sal, nerd e pouco sociável de outrora. Mas não é
sobre minha mudança pessoal que quero falar e sim daquela inaptidão por
esportes.
No
início de 2009 isso mudou, e eu encontrei a oportunidade de resolver esse
problema que já considerava sem solução. Meu pai resolveu colocar em prática uma ideia
que ele já tinha em mente há algum tempo. Ele decidiu que formaria um time de
vôlei e minha irmã foi a primeira a se empolgar com a ideia, claro. Também, foi
exatamente na escola dela que o time começou a se formar. Eu não tinha como
deixar essa oportunidade passar foi a segunda coisa que pensei, porque a
primeira foi “você nunca levou jeito, agora não vai ser diferente”. Ainda bem
que fiquei com o segundo pensamento. Eu duvido que haveria outra chance como
aquela de encarar uma bola e me ajeitar com algum esporte. Resolvi fazer parte
do time que a essa altura já tinha nome, patrocínio e uniformes. MINAS 7, um
nome sugestivo, e lá fomos nós.
O
que posso dizer dos nossos treinos de sábado à tarde? Superação todos os dias,
vencendo a cada semana dificuldades tremendas e algumas inimagináveis para um
time de vôlei. Um mês para dar três toques pra valer e dois para ensaiar e
executar simples jogadas. Nosso time
parecia rodoviária, cada sábado um novo integrante. Mas no final das contas
poucos permaneceram. Os melhores? Talvez. Permaneceram sim, os mais fortes,
aqueles que estiveram desde o início com um propósito firme, como o meu: o de
superar as dificuldades. Para quem antes não sabia nem segurar uma bola no ar,
agora eu conhecia todas as regras de vôlei.
Uma
experiência incrível, um exemplo sublime e ao mesmo tempo supremo do meu pai.
Ele acreditou em mim e em garotas que aparentemente não tinham nada a oferecer
para um esporte. E porque ele acreditou nós decidimos dar o melhor que tínhamos.
Fizemos no início do inverno daquele mesmo ano um jogo amistoso contra outra
escola do município, e não deu outro resultado. Consagramos-nos com a vitória,
uma conquista de muito suor e de cara limpa. Ganhamos troféus, medalhas e o
mais importante a certeza de que disciplina e fé são elementos essenciais para
quem quer abraçar uma grande conquista.
Depois
disso o vôlei durou pouco, não por falta de vontade mais por questões profissionais
na vida do meu pai, que precisou viajar a trabalho e ficar todas as semanas
fora. Não houve quem abraçasse o time na tentativa de mantê-lo e tivemos que
parar com os treinos. Muitas garotas se formaram, outras mudaram de escola,
cada um tomou o seu rumo e nossa história parou ali. Todavia nunca se tornará esquecida.
Hoje
escrevendo sobre isso, posso dizer que talvez não esteja longe a volta do MINAS
7. O meu pai está de volta, tentando achar disponibilidade para dar seguimento
a esse projeto. Pode ser que em breve nossa escola de voleibol alimente novas
esperanças, trazendo o esporte para vida de muitos que até já se resignaram a condição
de sedentários inábeis. Eu torço sinceramente
para que isso aconteça.
O
MINAS 7 mudou a minha vida. Pode ser que eu nunca mais jogue uma partida de
vôlei pra valer, disputando campeonatos e tudo mais. Mas eu tenho certeza de
que nunca mais me sentirei excluída, e caso alguém me convide para uma partida,
dessas bem corriqueiras de fim de semana, na praia, no sítio, seja lá qual for
o lugar, eu serei a primeira a topar.
Há
chances de se tornar hábil no que quer que seja.
Quem
determina a mudança somos nós.
O
som da nossa vitória daquele mês de julho foi a canção: Dias melhores do Jota
Quest.
Desconfio
que não haja melhor canção para esboçar a história do nosso time. Se você
conhece a letra vai entender bem porque eu falo isso...
Fica
aí o vídeo da nossa vitória.
Pense nisso!!!!!
Roberta Amaro
Como era bom ocupar meus sábados com o treino... Não me esqueço dos jogos valendo uma simples ''coca-cola'' do Oscar (e era neles que colocávamos em pratica tudo que tínhamos aprendido)... "Nosso time parecia rodoviária, cada sábado um novo integrante."" ADOREI, ali era igual coração de mãe: sempre cabia mais um... hehehe Todo mundo ali tinha um pouco para ensinar e para aprender... Saudades de todas... E se seu pai voltar a treinar, me avise, estou em Matozinhos outra vez, posso ajudar. Grande abraço!
ResponderExcluirMariele Lana