Durante todos os séculos a capacidade inalienável humana de pensar fora elemento norteador dos acontecimentos históricos. O uso dessa capacidade em suma constitui a maior arma da espécie humana. Uma arma apontada no principal alvo ou anseio: o de ser livre.
O verdadeiro princípio deveria ser este: quando o pensamento é uma arma a liberdade deveria ser o alvo. Contudo não é bem assim que acontece; e a História tem comprovado isso.
A atrofia do pensamento serviu e ainda serve como algemas políticas, religiosas, étnicas e várias outras que mantém em cárcere a tão almejada liberdade.
Um retrocesso na história até a metade do século XX é suficiente para que se perceba as consequências desastrosas do mau manuseio desta arma: o pensar.
O pensamento que regia o mundo outrora, principalmente nas principais economias do globo, não era o de se tornarem livres ou propagar a liberdade. O anseio era ,pois, o de se tornarem dominadores. Um corpo nunca poderá ser controlado por duas cabeças, quem dirá o mundo. E o resultado foi as duas Grandes Guerras Mundiais.
Na Europa, a distorção do pensamento atrelada ao preconceito não somente ceifaram vidas, como também despiram o caráter humano em praça pública. Dois pensamentos distintos não coadunam em uma mesma mente, todavia houve dominadores que ousassem tal feitio. Foram capazes de acreditar que isso fosse funcional em um único mundo.
Enfim, são infindáveis os exemplos do mau emprego da capacidade de pensar, que no decorrer dos séculos perpetua as ditaduras de outrora. As opressões só aderiram novas roupagens. Hoje são o que os historiadores chamam de incorrespondência histórica. Um retrocesso em meio a grandes avanços.
No início desse ano uma onda de protestos alastrou-se pelo Oriente Médio, contra as então ditaduras odiosas, que em pleno século XXI ainda ousam permanecer funcionais. "O POVO DERRUBOU O GOVERNO". "30 ANOS DE DITADURA DERRUBADOS EM 18 DIAS". "REBELDES RESISTEM CONTRA A PERMANÊNCIA DO DITADOR". Era o que se noticiava nas manchetes dos principais jornais mundiais. Todo o sensacionalismo soa como um grande avanço, com forte significância e alarde na conjuntura internacional, entretando ainda assim preocupam.
Especialistas ressaltam que revoltas contra tiranias podem acabar com um belo final, em um fracasso sangrento ou em outra tirania.
Já se passaram meses desde que as primeiras reações contra ditadores iniciaram-se. A perspectiva de um "grand finale" , ou seja, de um belo final tornou-se mais do que uma utopia, sendo praticamente impossível. O saldo desses meses de confronto parecem confirmar as duas últimas perspectivas. Um grande número de civis mortos, ataques em espaços públicos, ditadores resistentes em suas fortalezas, militares assumindo "provisoriamente" o poder.
Tudo sempre muito instável no Oriente Médio e o mundo desconhece o destino de todos esses acontecimentos.
Luta-se pelas ideias, por pensamentos; a liberdade,porém, ainda não alcança espaço.
O ser humano pensa, mas o poder cega.
E Voltaire estava certo quando ponderou: "Ser verdadeiramente livre é poder".
O poder que o ser humano conhece garante a liberdade apenas para aquele que o detém.
E o alvo da maior arma, para a grande maioria, permanece assim, inatingível.
Pense nisso!
Roberta Amaro