" ESCREVER É AMADURECER COM AS PRÓPRIAS IDEIAS!"

( Roberta Amaro )

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

TERCEIRO ATO


Outro dia estava lendo alguns textos de Antônio Prata e encontrei esse falando sobre a maturidade. É bastante interessante a maneira cômica e realista que ele analisa e caracteriza a cada fase da vida e como nós conduzimos cada uma dessas fases. Resolvi publicar, afinal discutir sobre a maturidade sempre nos rende uma boa oportunidade de parar para pensar, e porque não rir um pouco de nós mesmos.




04/08/2011
Publicado na Revista VIP


Aos dez anos, eu acreditava que a idade adulta começava aos vinte. Aos vinte, achei que ainda não havia chegado lá e decretei que adultos eram só os com mais de trinta. (Convenhamos, a apenas seis primaveras da oitava série você é, no máximo, um pós-adolescente: provavelmente ainda mora com os pais, deixa a toalha molhada em cima da cama e siglas como IPTU ou FGTS fazem muito menos sentido do que MILF ou THC.) Ao completar a terceira década de vida, contudo, não tive como protelar: alguns fios brancos no queixo, projetos de rugas nos cantos dos olhos e entradas moderadas avançando pelo couro - já não tão - cabeludo me atestavam, no espelho; eis aí um espécime maduro, acabado e plenamente desenvolvido de Homo sapiens sapiens. E, sabe o que? Fiquei bastante contente com a descoberta.

A infância é terrível. Você precisa chamar as autoridades competentes até mesmo para limpar a bunda, é incapaz de organizar verbalmente as ideias mais rudimentares e quando o faz por outras vias, como, por exemplo, pintando a parede da sala com seu estojo de canetinhas, fica um mês sem sobremesa. A infância é uma espécie de condicional, após a solitária do útero. Uma liberdade vigiada, que deve te preparar para a próxima fase infeliz: a adolescência. Ser adolescente é mais ou menos como mendigar em Paris ou estagiar numa empresa bacana: você já está lá, onde tudo acontece, mas não pode participar da festa; porque é duro, porque é nerd, porque é prego, ou porque tem que decorar o número atômico dos alcalinos terrosos e a função das mitocôndrias, para a prova da FUVEST.

Só tive o que comemorar, portanto, quando terminaram essas duas fases de tutela e me vi finalmente livre. Aos trinta, você escolhe bola, campo e o time em que quer jogar. Tá bom, pode reclamar que sua bola não é uma Jabulani, que o gramado está mais pra uma várzea do Tamanduateí do que pro tapete do Camp Nou, que no seu time só tem perna de pau. Mas uma das vantagens da idade adulta é que, ao contrário da infância e da adolescência, que passam num piscar de olhos – ou num xixizinho e numa ejaculação precoce, para nos atermos a imagens mais condizentes com o assunto -, a maturidade dura quatro décadas; é tempo suficiente para você se acostumar consigo mesmo ou para mudar a situação. E talvez seja essa a maior lição da maturidade: saber discernir entre as coisas que você pode e precisa lutar para mudar e aquelas que deve simplesmente aceitar. Na infância ou na adolescência, ser ruim nos esportes era algo que me atormentava. “Por que, ó, Deus, fizeste-me o último a ser escolhido em todos os times, na Educação Física?”, eu perguntaria ao Senhor, se Nele acreditasse e decidisse importuná-Lo com meus resmungos. Hoje, isso é apenas um dado, quase indiferente, como ter cabelo castanho ou ser canhoto.

Se você está em torno dos trinta, pode lutar durante os próximos quarenta anos para realizar projetos e conquistar a(s) mulher(es) por quem estiver afim, para correr uma maratona ou ganhar dinheiro; mas vai ter que aceitar suas orelhas de abano ou pernas finas, o fato de não ter a lábia de Don Juan, a inteligência do Einstein nem a conta do Bill Gates. E por que não aceitaria? O mundo é grande, tá cheio de gente interessante e tem um monte de coisa boa pra fazer, mesmo não podendo pegar sempre a mais gata da festa, jamais descobrir uma segunda teoria da relatividade nem comprar um iate, numa quarta-feira à tarde, se estiver um pouco entediado.

Três décadas. Dá o que pensar. Mas não tenhamos pressa. Como disse uma amiga minha, nos últimos minutos dos meus vinte e nove: “Não se preocupe, meu querido, os homens começam as trinta”. Com calma, vamos aproveitar esse longo terceiro ato, antes que chegue o quarto – a velhice – e o quinto - sobre o qual não convém falar, por estar muito lá pra frente, só bem depois dos noventa. Ou dos cem? Cento e dez? Cento e quinze, cento e vinte...
Escrito por Antonio Prata 

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