" ESCREVER É AMADURECER COM AS PRÓPRIAS IDEIAS!"

( Roberta Amaro )

sábado, 23 de julho de 2011

ERROS MÉDICOS







De tempos em tempos um médico comete um erro ao tratar uma personalidade famosa.
O médico é massacrado em público, condenado e julgado muito antes do julgamento legal, por pessoas que não estudaram Direito nem processo jurídico.
Ou seja, é condenado por pessoas que estão cometendo grosseiros erros jornalísticos e legais, mas isto passa em branco.
Invariavelmente a reputação do médico é destruída ou seriamente chamuscada.

Com todo o respeito aos familiares que sofreram erros médicos escabrosos, vou colocar alguns pontos que esquecemos quando acusamos nossos médicos de imperícia, imprevidência e negligência.


1. Todo profissional comete erros, erros grassos, evitáveis se prestassem mais atenção.
São fruto de uma noite mal dormida, um filho que nos deixa acordado, uma dívida a pagar, um plano econômico escabroso.


Errar é humano, mas se você for um médico, esta máxima não vale.


2. Em 1990, quando três economistas do Governo Collor sequestraram nosso dinheiro, um conhecido meu se suicidou, uma senhora vizinha morreu porque não tinha como pagar uma operação na semana seguinte. Muitos amigos me descreveram casos semelhantes.
Quase todos os Ministros da Fazenda que passaram pelo governo manipularam os índices de correção monetária, usaram as nossas “contribuições previdenciárias” para pagar salários para o funcionalismo público, e hoje ninguém se aposenta com suas próprias contribuições, nem pelo valor imaginado.


O problema no caso de médicos é que a relação entre médico e consequência é direta, e nas outras profissões não. Este é o problema da profissão.
Um erro num paciente que morre na mesa de operação é bem mais fácil de provar do que um erro de um intelectual que leva uma pessoa a se suicidar, que atrasa o desenvolvimento do país em 10 anos, que aumenta os juros para captar mais e aumenta assim a miséria.
Isto é justo?


2. Eu cometo vários erros de português a cada artigo que escrevo, só que erros de português não matam seres humanos, a não ser os meus professores de português que morrem de vergonha.
Pense nos erros que você comete na sua profissão. Pense no número de pacientes que um médico atende numa carreira. Ele é processado, e você não.


Temos o direito de processar nossos médicos só porque escolheram uma profissão que salva vidas, e nós pobres mortais não?


Está crescendo no Brasil a indústria de caça aos médicos com indenizações milionárias, o que irá aumentar o custo médico ainda mais.


Não estamos usando dois pesos e duas medidas, julgando médicos muito mais rigorosamente do que nós mesmos?


4. O marco de comparação para um serviço médico deveria ser quais as chances do paciente sobreviver se cada um cuidasse de si mesmo.


Parece estranho, mas a regra básica é esta.


Se eu me tratasse sozinho provavelmente já estaria morto.


Mas o dia que você estiver perdido num deserto, um simples enfermeiro é tudo que você quer.
Obviamente exagerei um pouco na comparação acima.


Nós pagamos uma consulta achando que estamos contratando alguém muito bem treinado em Medicina, mas podemos esperar sempre uma conduta perfeita?


Mesmo pagando pouco? Obviamente que sim. Mas isto significa que ele ou ela não poder errar feio, digamos 0,01% das vezes?


5. Quem viaja de avião sabe que tem uma chance em 5 milhões de se espatifar voando.
Estamos simplesmente trocando de riscos, o risco de ser atropelado indo a pé contra o risco de cair o avião.


O risco de nos tratarmos com um simples farmacêutico e o de nos tratarmos com um médico formado, justamente no dia que ele diagnosticou mal.


Risco de erro médico faz parte dos riscos de vida, como viajar de avião.


Devemos processar a Cia. de Aviação cada vez que um avião cai, colocando em risco a própria empresa com ações trilionárias?


É o que fazemos, incitados pela indústria de indenizações.


6. O que estou propondo é nada popular, e só quero que as pessoas reflitam.


Por que médicos não podem fazer a sua cota parte de erros sem serem trucidados?
Como nós?
Por que um médico não pode cometer um erro depois de 8.000 cirurgias? Por que ele perde o direito de ser médico porque errou na 8001a.?


Os que argumentam que ele deveria ter sido mais cuidadoso naquela 8001a., não entendem que não existe perfeição.


O Estado poderia processar aqueles que erram muito mais do que a média, não todo aquele que erra.
Uma pequena margem de erros deveria ser admitida como fatos da vida, um risco social como andar de avião.
Eu sei que quando ocorre com a gente a questão muda de figura, mas trucidar uma profissão ou obrigá-los a pagar enormes seguros médicos, não é a solução.



@stephenkanitz





http://blog.kanitz.com.br/





Pense nisso!





Roberta Amaro

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